Não ligo a superstições de sexta-feira 13, não gosto de
pensar negativo em nenhuma altura. Mas a noite da última sexta-feira 13 foi uma noite de azar
para tantas pessoas que desfrutavam da noite parisiense...
Quero falar-te nisto, porque não sei como vais estar o mundo
daqui a alguns anos Francisca. Não sei o que te vou dizer acerca do terrorismo
quando fores mais velha. Não sei como te vou proteger. Não sei como te vou
explicar o que é que está a acontecer quando tiveres perguntas para me fazer.
Por isso escrevo-te quando os sentimentos ainda estão mornos. Preferi fazê-lo
hoje.
Tinha-te deixado na casa da avó para jantares por lá, e caso
quisesses para dormir, e estava a caminho da pizzaria com o pai quando o
telefone do pai recebeu uma mensagem que nos avisava que tinha havido um
atentado em Paris. Desde esse momento até irmos dormir ficámos a seguir as
notícias. Fiquei a pensar no presente e no futuro e tive medo. Não há raça, nem
religião de homens maus, há um fanatismo absurdo que os move. Eles existem
Francisca e felizmente são raros.
Estou atenta ao que se passa no mundo e também sabia que os
últimos tempos tinham sido atingidos por tantos outros ataques menos
mediáticos. Este não é mais importante porque foi em França. É mais mediático e
somos obrigados a pensar nele logo assim que ligamos a tv ou a rádio, ou vemos
a primeira página de um jornal. É ali ao lado filha! É onde a mamã diz quase
todos os meses que não se importava de voltar.
Espero que cresças num mundo um pouco melhor, apesar de me
parecer que estamos a caminhar exatamente para o contrário disso. Espero que
possas visitar países para onde eu já desisti de viajar e que estes não estejam
destruídos pela guerra. Espero que quando estiveres a falar para a tua filha o
faças num mundo mais pacífico, mais tolerante e onde a religião ou a raça não
são usados como desculpas para ferir outras pessoas.