sábado, 28 de março de 2020

15.º dia de Quarentena

Passaram já 15 dias e não sabemos quantos mais vão passar. Existem previsões, palpites, teorias, mas a verdade é que ninguém sabe quando é que "isto" terá fim.
(Estou neste momento a ouvir Dean Martin com phones porque sinto uma enorme necessidade de estar sozinha, ainda que vocês as duas estejam a ver o tablet no sofá e o pai esteja ao vosso lado a ver tv... )
De manhã fui à praça, ao talho e ao mini-mercado fazer as compras para nós e para os avós. 
Desde a semana passada que existem filas à porta de todos os estabelecimentos de alimentação que se encontram abertos, controlando assim o número de pessoas que entram. Já quase que não precisamos de atravessar na passadeira porque passam poucos carros na estrada (ainda que sejam muitos, face àquilo que nos pediram). Existem poucos lugares de estacionamento porque quase toda a gente está em casa. Os restaurantes estão todos fechados e os que estão abertos só têm disponível a opção take away. O "nosso" Fidalgos tem uma mesa à porta e servem café em copos de plásticos e miniaturas e todos aqueles bolos deliciosos também em regime take away. (Ainda tenho esperança que invistam naqueles copos tipo Starbucks ou Dunkin' Donuts e que a moda fique)
A última vez que fomos a um restaurante foi com os pais da tua amiga Carolina, em Lisboa, em Fevereiro... mal nós sabíamos que tão cedo não iríamos entrar num restaurante, ir a um parque infantil, ou até abraçarmos aqueles que amamos. Caraças... que vontade tenho de abraçar os avós. Mas depois penso que os tenho (e com saúde) e deixo-me de mariquices.
A música que estou a ouvir agora é Arrivederci Roma e sinto um aperto no coração por tudo aquilo que se está a passar em Itália neste momento. Hoje morreram quase 900 pessoas em Itália e ontem ultrapassaram os 900... Espanha vai pelo mesmo caminho e até há pouco tempo eu, inocente, ingénua, pouco informada, achava que tudo isto era um exagero. Não era. Não é.
Não sabemos nada.
Resta-nos esperar.

quinta-feira, 26 de março de 2020

13.º dia de Quarentena

Temos novas rotinas, novos hábitos e passamos muito tempo juntas, quase como se estivéssemos de férias mas sem o sabor das mesmas. Por falar nisso, deixei de sonhar com as próximas, não se prevê o fim desta pandemia e o ano corrente será para sem dúvida um ano de pausa.
Esta semana foi desafiante e levou-me muitas vezes a pensar em alterar a minha condição de teletrabalho para baixa por assistência à família. Tenho assistido a imensos projetos de pais e filhos que me levam a pensar que sou uma má mãe. Dedico todos os dias da minha quarentena a um trabalho que não me valoriza, que não me reconhece e que me faz acordar pressionada, não pelo que se está a passar no mundo mas pelos prazos e trabalhos que tenho que cumprir.
Quero que saibam que nestes dias não brinquei mais convosco porque não me foi possível e que nada me daria mais prazer do que estar convosco de verdade, a ouvir-vos, a mimar-vos a estar presente e não sempre em frente a este ecrã. Perdoem-me este sentido de responsabilidade e as minhas falhas como mãe. Perdoem-me por não construir convosco projetos com materiais recicláveis, cantar canções da escola, fazer mais bolos (temos feito um por semana, não está mal) e "puxar" pelas vossas capacidades.

sábado, 21 de março de 2020

8.º dia de Quarentena

Que não hajam dúvidas que vamos recordar estes dias durante muitos e muitos anos. Que as nossas rotinas vão mudar, que a nossa maneira de ser será moldada e que iremos valorizar outras coisas que até há pouco tempo tínhamos como adquiridas.
Quase todo o mundo está em quarentena: obrigatória, voluntária, parcial.... há fronteiras fechadas, viagens canceladas, etc.
Foi declarado Estado de Emergência no nosso país no passado dia 19/03, os cafés e restaurantes fecharam, as empresas com atendimento ao público fecharam, foi potenciado o comércio online para quase todo o tipo de negócios. Continuam abertas as lojas de alimentação: minimercados, talho, mercado central, padarias e existem restaurantes que se dedicaram ao takeaway. As rua estão desertas, havendo apenas concentrações de pessoas espaçadas nos poucos negócios que continuam abertos.
A mãe tem estado convosco desde segunda-feira sozinha em casa, enquanto o pai vai trabalhar. Cada vez com menos energia, dedicando o seu tempo ao trabalho, à tua escola Francisca e às tuas brincadeiras Carlota. Apesar de já terem passado quase 8 dias desde que estamos "presas" ainda estamos a adaptar as nossas rotinas a esta nova realidade. Se fosses um pouco mais velha Carlota, tudo seria mais fácil de planear. Assim, com os teus tenros 3 anos não consigo fazer muitos planos para a semana, preciso apenas de seguir umas linhas orientadoras: acordar cedo (sem despertador), pequeno-almoço seguido de higiene e vestir, trabalhar (eu e a Francisca), almoço, higiene e sesta (quando é possível) e depois logo se vê. Tenho trabalhado em todos os bocadinhos que posso, tenho feito o possível para responder ativamente e rapidamente a todos os assuntos trabalho não descurando os vossos trabalhos da escola nem a atenção e paciência que vos tenho que dar.
A escola em casa é outra adaptação que todos estamos a passar, ontem tivemos a nossa primeira video-chamada com a professora e foi importante para nós pais e para vocês perceber como se estão adaptar os colegas, qual o feedback dos amigos e professores, foi importante partilhar as dificuldades nos trabalhos de casa, os medos, as expetativas.
Que não duvidemos que este afastamento nos tem tornado a todos mais próximos. Acho que nunca fiz tantas videochamadas com amigos e familiares, nunca enviei tantas mensagens a amigos. E tenho-me lembrado muito dos amigos que estão longe e tenho enviado mensagens, que não haja preguiças nesta altura! Que se aproveite esta pandemia estúpida para querermos saber mais uns dos outros. Agora não há raça, estatuto social, diferença. Estamos juntos, qualquer um pode estar infetado, qualquer um pode sofrer com esta doença direta ou indiretamente. Que este problema traga também algo de positivo... agora que já tinha perdido toda a minha fé na Humanidade.



quarta-feira, 18 de março de 2020

5.º dia de Quarentena

Hoje é o 5.º dia que estamos "presas" em casa. Desde sábado que limitámos ao mínimo as nossas saídas. Saímos no sábado por 10m para andarmos um pouco na ciclovia em frente à nossa casa, que estava deserta. Eu e o pai saímos na segunda para que a mãe pudesse ir a um Clinica tirar dois sinais na cara e desde aí que temos estado encerrados.
Ontem fui levar o lixo para a reciclagem e soube-me tão bem sentir o vento na cara.
É verdade que não nos estão a pedir nada de extraordinário, mas o facto de não ter tempo livre está-me a afetar. Levo os dias a tentar trabalhar, a tentar ser uma mãe paciente, uma educadora para a Carlota, uma professora para a Francisca, uma boa dona de casa que não deixa nada fora do lugar, mas não está fácil. Quando adormecem à noite aproveito para trabalhar e fazer aquilo que não consegui durante o dia. Depois adormeço e começa um novo dia de prisão domiciliária.
Está a ser terrível a questão das compras, com a nossa estadia em casa os alimentos desaparecem porque vocês estão sempre com fome e os supermercados têm as idas muito controladas e filas gigantes. As compras online ou não estão disponíveis ou têm data de entrega para daqui a 15 dias. Nunca vivemos nada parecido e já estamos a racionar as refeições em casa. Há que ser inteligente e organizado para que consigamos ultrapassar da melhor forma o que se está a passar e o que está por vir.


sábado, 14 de março de 2020

1.º dia de Quarentena

Hoje é oficialmente o 1.º dia de isolamento social da família Costa Domingos.
Depois de na quinta-feira à noite o 1.º Ministro ter declarado o encerramento de todos os estabelecimentos de ensino até 9 de abril (pelo menos), começámos a traçar o nosso plano... Faltam 27 dias até sabermos quais serão as novas diretrizes.
Vamos ficar em casa, isolados da nossa família e amigos e vamos ter um plano de trabalho que permita seguir com as nossas rotinas escolares e com a sanidade mental dos papás. Muni-me de várias fichas de atividades e livros de preparação do 1.º ano, de mapas de rotinas do pré-escolar e aderi ao canal pago de filmes para que possamos "tirar partido" desta porcaria de vírus. Vamos passar muito tempo juntos, vamos perder a paciência, vamos aborrecer-nos uns com os outros, mas também nos vamos rir muito juntos, vamos ver filmes agarradinhos a comer pipocas e vamos acordar um pouco mais tarde. Vamos criar rotinas que espero que se mantenham depois da tempestade e vamos sair disto mais fortes e com boas práticas enraizadas, assim o espero.
Dizia-vos no outro dia que a minha opinião em relação a este vírus já se tinha alterado muito, de semana para semana. Neste momento, a situação prevê-se que seja tão complicada que a mamã já nem sequer acorda a pensar em Singapura...
A informação que tenho recebido e lido relativamente à pandemia é que não a podemos desvalorizar e que devemos atuar já, porque a situação vai piorar muito. Os problemas que já existiam nos hospitais serão cada vez mais graves e o sistema de saúde vai com certeza colapsar. Temos a tarefa de nos protegermos (a nós e aos outros). 
Ouvia ontem a seguinte frase "No tempo dos nossos avós pediram-lhes que fosse para a guerra, a nós só nos pedem que fiquemos em casa". Vamos então cumprir e acreditar que daqui a uns meses tudo isto não passará de uma má recordação.

sábado, 7 de março de 2020

Covid19

Já há mais de um mês que tenho tido vontade de vos contar o que se anda a passar em pleno 1.º Trimestre de 2020 e acho que já o devia ter feito. Primeiro, porque mudei muito de opinião nos últimos dias, depois porque tenho consciência que o assunto que está "em cima" da mesa vai ficar gravado na nossa história e daqui a uns anos todos iremos falar naquele ano negro em que apareceu um tal de coronavirus, que direta e indiretamente nos afetou a todos, prejudicou a situação económica do nosso país e (com todo o egoísmo que tenho) estragou uma das coisas que mais gozo me dá na vida. O meu motor, logo a seguir a vocês as duas. Este vírus matou as nossas férias. Hipotecou os meus sonhos para 2020. As imagens, sabores e saberes que tenho andado a ansiar há 8 meses. Ainda não cancelei a viagem mas sei que o vou fazer, porque estou convicta que a situação vai piorar nos próximos meses, ao invés de reverter. E desisti (mentalmente) desta viagem porque sou coerente com aquilo que acredito, porque me preocupo com os outros e tenho de ter responsabilidade social para estarmos protegidos em casa e não a vaguear pela Ásia. A minha felicidade em viajar durou cerca de uma semana. Sei disso porque foi o tempo que tive entre o tomar a decisão com o pai de viajar, consumir livros, informação online, youtube e tudo sobre esta viagem, marcar a viagem e saber 3 ou 4 dias depois que havia uma epidemia na China com números a aumentar de dia para dia.
Perdoem-me o egoísmo filhas... num primeiro momento só pensei nas férias, só pensei que me estavam a querer roubar o meu balão de oxigénio anual. Todos os dias entrava (e ainda entro) num site para saber se o número de infetados nos 3 países que íamos viajar estava a aumentar e ao longo destas semanas mudei tanto. Tive dias em que acreditei que o final da epidemia estaria para breve e que iríamos na mesma, tive dias em que pensei que rapidamente se tornaria numa pandemia e agora estou preocupada e triste. Perdoem-me filhas por não valorizar tudo o de bom temos e estar triste com isto, mas não seria sincera se não dissesse que estou de rastos. Perdoem-me o exagero.
Nos próximos dias dou notícias, até lá espero deixar de pensar nisto e continuar a viver a vida ao vosso lado. Vocês estão cada vez melhores, meus amores!

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

1.º Ciclo - os primeiros 15 dias

A 16 de setembro de 2019 saímos de casa com a mochila nova, a lancheira nova e toda uma rotina nova e muita vontade de aprender. Até a mana Carlota estava ansiosa e olha de forma vaidosa para a tua mochila. Para ela também estávamos a entrar num novo ciclo, no jardim de infância com uma nova sala - Chapim Real - uma nova auxiliar e uma nova educadora.
Nos primeiros dias não trouxeste grandes novidades para os pais, comentaste um ou outro aspeto do 1.º ano, mas sem grande detalhe e sem que conseguíssemos perceber o que era isso do Movimento Escola Moderna e que rutura era essa com o ensino tradicional. Até à reunião que decorreu no teu 5.º dia de escola a única certeza que tínhamos era que apenas tinhas um manual escolar (o de Matemática) e que não irias aprender a ler e escrever como nós tínhamos aprendido. Até à reunião ficávamos confusos a pensar na dimensão da sala, no número de alunos (34) e nas duas professoras. Como é que duas turmas e duas professoras podiam resultar num só espaço comum?!
Conhecemos a Prof. Vanessa e a Prof. Dora e criámos uma empatia imediata com ambas. Uma era experiente, dinâmica e com sentido de humor, a outra, mais nova, muito simples, calma, assertiva e com um aparente domínio da "matéria". Não podia pedir mais nesta fase. A questão das turmas em conjunto com duas professoras? Vamos confiar.
Com a chegada da segunda semana, chegou também o primeiro texto do livro de leitura. O livro de leitura é o "livro de Português" que é criado com textos provenientes das experiências dos alunos. No 1.º texto existia apenas uma frase, com algumas palavras que serão inevitavelmente as primeiras palavras que saberás ler e escrever, ainda que seja de forma decorada. Apenas por associação do desenho das letras às palavras que representam. Olhámos para ti com orgulho a "ler" o texto em casa e demos pela Carlota também a "ler" o mesmo texto.
Os primeiros trabalhos de casa surgiram apenas no final da segunda semana de escola e foram fáceis para ti, no que respeita à Matemática e uma seca no que respeita ao praticar a caligrafia do teu nome. Na minha opinião escreves de forma bonita o nome em letra de imprensa e manuscrita, mas para os teus padrões de exigência ainda não está muito bonito e por isso não te apetece "praticar".
Ainda estou a aprender a lidar contigo como aluna e com as tuas primeiras frustrações. Nada que eu não soubesse que iria ocorrer. Não sejas tão exigente contigo Francisquinha, tu és fantástica filha!