segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Carlota!!

O dia do nascimento de um filho é verdadeiramente mágico.
É um facto que temos um ambiente de hospital, alguns estranhos a entrar e sair do quarto, um bloco operatório frio e os receios de que algo corra mal, mas ainda assim nada nos marca tanto quanto estes dias. E durante dias, meses e às vezes até anos revivemos aquele momento no pensamento com uma alegria gigante.
Desta vez entrei no hospital com a certeza que queria absorver todas as sensações, que queria guardar na memória todos aqueles momentos-polaroid da admiração de um filho quando nasce. E assim o fiz.
Lembro-me de todos os pormenores dos dias 7, 8, 9 e 10 de novembro. Lembro-me de me apaixonar perdidamente por ti na tua primeira hora de vida. Lembro-me de toda a lucidez que tive desde as 15h15. Minutos antes de entrar no bloco comentei com o pai que a anestesista Ana Rita tinha sido muito importante no nascimento da Francisca e que por isso apenas tinha decorado a sua cara e o seu nome. Bateram à porta e entrou a anestesista Ana Rita. Comentei com ela a curiosidade que tinha partilhado com o pai e disse que todas as suas palavras e gestos me tinham ficado na memória e que ela tinha sido muito importante no parto da Francisca. Nesse momento pensei que aquilo era um sinal que tudo iria correr bem. Segui todas as suas instruções, fui ouvindo cada uma das suas palavras relatando o que estavam a fazer por trás da cortina e houve um momento que mesmo estando a sentir-me mal (tinha a ver com a posição de barriga para cima e o peso que estavas a fazer sobre os meus orgãos) estava confiante que tudo estava bem. O pai André desta vez já pode assistir ao parto e apesar de estar atrás de mim, tenho a certeza que se emocionou quando ouviu pela primeira vez o teu choro. « Tem uma menina grande e gordinha 3,220 Kg» ouvi em seguida
E esse som fica-nos retido na memória para sempre, não duvido. Colocaram-te em cima do meu peito durante uns minutos e lembro-me da temperatura da tua pele sob a minha naquele sítio frio. Lembro-me da cor da tua pele e de sentir o teu cabelo enquanto chorava de alegria. Depois foste com o pai até ao recobro e eu fiquei à espera que os médicos tratassem das costuras e afins...
O tempo parecia não passar.
Finalmente cheguei ao pé de vocês. Lúcida. Calma. Feliz.
Naquele tempo que ficámos os três no recobro estiveste quase sempre a mamar e nós rendidos à tua beleza (e também com as mãos no telemóvel a enviar mensagens e fotos à família e amigos... pelo menos o pai). O efeito da anestesia estava quase a passar e os enfermeiros nunca mais nos levavam para o quarto. Estávamos com medo que não houvesse tempo para a Francisca te conhecer, porque as horas passavam e o fim do horário das visitas aproximava-se. Explicaram-nos depois que tinham aparecido uma série de emergências e por isso demoraram tanto a encaminhar-nos para o quarto.
Ias na maca junto a mim e entrámos com as enfermeiras no nosso quarto, enquanto o pai foi ao encontro dos avós e da mana Kika. Nesse bocadinho as lágrimas não paravam de sair e as enfermeiras perguntavam-me o porquê.
Estava ansiosa de ver a Francisca, estava ansiosa para ver aquele momento em que vocês as duas se conhecem. Queria muito saber como estava a minha menina grande.
E quando a mana entrou sorriu muito, muito, muito... 
Sorriu tanto que eu ainda consigo ver o sorriso dela.
Naquele momento senti que tinha perdido a minha filha única, mas tinha ganho dois grandes amores.
Os avós vieram com a Francisca e a avó Titão e todos te acharam uma bebé muito perfeitinha e bonita.
A Francisca fez-te muitas festas e deu-te muitos beijos.
Demos à mana uma prenda, uma barbie com bicicleta e dois cães, a tua prenda para ela!

A Francisca estava muito feliz!
Eu estava completa!

Bem-vinda meu pequenino grande amor!

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Carta à minha filha grande

Francisca, Kikas, Kikanicas, Kikocas, docinho, meu amor, Kiki,

Durante estes 3 anos e meio fizeste-me sorrir e rir muito todos os dias. Durante este tempo fomos construindo um amor muito cúmplice, cheio de miminhos, cheio de brincadeiras. 
Viajámos a três por lugares maravilhosos, e tu e o pai estavam ao meu lado quando um dos meus grandes sonhos se realizou - a nossa primeira viagem aos USA. 

Não te vais lembrar de como foram estes três anos de filha única, nem das nossas rotinas (se calhar nem eu me vou lembrar de grande parte delas). Não te vais lembrar de como era a nossa vida quando éramos três. De chamares por mim ao acordar a perguntar: - Já é de dia mãe? Podes dar-me uns miminhos?

Não sei se vou continuar a adormecer-te ao meu lado ao mesmo tempo que recebo milhares de festinhas na cara (houve vezes que até me chateei contigo porque chegámos a passar mais de 60 minutos a trocar festinhas e tu sem dormir e eu sem posição com esta barriga, desculpa se fui impaciente enquanto recebia tanto mimo). Não sei se vou continuar a adormecer-te ao meu lado enquanto me agarras na mão e a conduzes para a tua barriga para que eu faça festinhas até adormeceres. Não sei o que vai mudar com o nascimento da mana. Sei com toda a certeza o que não vai mudar, o amor crescente e exponencial que sinto por ti a cada dia que passa e o orgulho que me enche a alma por ter a sorte de te ter na nossa vida. 

E tenho a certeza que o melhor presente que te posso oferecer nesta vida é o privilégio de teres uma mana, de nos ajudares a cuidar e a educar uma menina que te vai ter como exemplo na vida. 

Desculpa filha se eu falhar nos próximos tempos, a mãe não sabe o que é ter um coração a bater por duas meninas, a mãe não sabe como é gerir o tempo entre uma bebé recém-nascida e uma menina muito esperta e exigente.

Adoro-te minha Francisca