A nossa FRANCISCA já cá está! Cheia de saúde! Linda, como eu nunca tinha visto um bebé!
Estou apaixonada! Estamos apaixonados!
Já passaram 13 dias desde o teu nascimento e por isso tudo o que vou relembrar são as memórias que ficaram do dia 31 e dos dias do nosso internamento no hospital. Dizem que a mãe tem boa memória, mas o certo é que tenho a certeza que me esqueci de uma série de pormenores do dia do teu nascimento, consequência das anestesias e da famosa oxitocina que nos ajuda a esquecer algumas das coisas menos boas.
O internamento e parto:
Eram 9h quando chegámos ao Hospital de Vila Franca de Xira, tal como tínhamos combinado com a médica, fiz um CTG, fui observada pela médica e aparentemente tudo estava na mesma, ou seja, as nossas caminhadas não tinham tido grande efeito. O colo do útero estava mole, mas continuava muito "alto". De acordo com o previsto fui internada em seguida, o pai foi connosco para o bloco de partos. Não sabia que tudo se iria desenrolar ali, pensava que primeiro ia para um quarto e só quando entrasse em trabalho de parto efetivo seguiria para um bloco de partos. No bloco estava tudo pronto para receber-te, ao meu lado estava uma pequenina caminha com uma espécie de máquinas e com tudo o que irias precisar, a tua primeira roupinhas, uma fralda, etc.
Assim que me deitei na cama tomei um comprimido que se devia desfazer na minha bochecha, eram umas 11h30. Penso que as contrações mais seguidas e intensas começaram na hora seguinte. Estavamos a acompanhar o batimento do teu coração ao mesmo tempo que monitorizávamos as contrações. Quando as dores se intensificaram levei a tão afamada Epidural, que segundo me explicaram afinal era uma Anestesia Sequencial, isto é, uma combinação de anestesia Raquidiana, seguida de uma Epidural horas mais tarde. Deste modo, sentia-me bastante bem e praticamente não notava que tinha contrações a não ser pela observação no monitor.
Pelas 18h ainda tudo estava numa fase muito verde e apesar das contrações muito frequentes o seu ritmo era bastante irregular. Apercebi-me que pelo andar da carruagem a médica iria embora e tu só nascerias no dia a seguir, com alguma sorte nas primeiras horas do dia 1.
No Hospital estavam os avós, a tia Érica e o tio Jorge e a madrinha Susi e já desesperavam por noticias nossas. O papá de vez em quando saía e ia falar com eles para lhes transmitir as (poucas) notícias que tinha.
Às 23h e já no terceiro turno de enfermeiros, auxiliares, médicos e estagiários e depois de alguns toques feitos por diferentes pessoas, o enfermeiro diz-me que estou oficialmente em trabalho de parto e pede-me que tome um duche de água muito quente com incidência no abdómen. Lembro-me das dores das contrações serem bastante fortes durante o duche, o pai estava naquele momento com os avós e quando entrou no quarto contei-lhe que finalmente tinha entrado em trabalho de parto. Voltei a ser observada pelo enfermeiro que me disse que já estava com 6 dedos e meio de dilatação (antes do duche estava com 4) e que iria chamar a anestesista para eu levar a Epidural, as dores não estavam fáceis mas aguentavam-se. A anestesista nesta altura já era das poucas pessoas que eu estimava, pela forma como falava comigo e me transmitia calma, não é que os restantes enfermeiros fosse frios e insensíveis. Quando a anestesista entrou na sala começaram a falar e a olhar para o monitor cada vez que eu tinha uma contração. Comecei a ficar muito nervosa e com as lágrimas nos olhos, como se me estivesse a aperceber que tu não estavas bem. O enfermeiro chamou então a médica que estava de serviço, que entrou no bloco sem cumprimentar ninguém e me foi fazer o toque sem sequer olhar para a minha cara. Não sei se era o cansaço, as dores ou a a preocupação mas as lágrimas estavam quase a escorrer e eu estava cada vez mais nervosa, apercebi-me que estava mesmo qualquer coisa de errada com o CTG, os teus batimentos cardíacos era muito fracos cada vez que eu tinha uma contração (desciam para menos de 90bpm), o enfermeiro disse-me: "Vamos ter que ir dar uma volta. Vai fazer cesariana", olhei para o pai que tinha os olhos em lágrimas mas que fez o possível para sorrir e me dar força e acho que comecei a chorar e só parei às 2h e pouco quando te estava a amamentar no recobro, era 1h.
O parto foi "fácil", estava anestesiada e não sentia nada abaixo do peito. Durante a cirurgia a anestesista esteve sempre junto a mim, a limpar-me as lágrimas e depois de me dizerem "Já está! Já nasceu e é mesmo uma menina" ela pediu para que me mostrassem a menina e disse-me para eu lhe dar um beijinho. Foi o primeiro de muitos beijos que te dei e pensei exatamente naquilo que a avó me tinha dito: «Quando a vires, vais pensar que era exatamente aquilo que tu querias". E eu não podia ter melhor. Não me preocupei em olhar para os dedos das mãos ou pés, fixei-me na tua cara enquanto chorava muito e apaixonei-me.
Ainda estava a ser operada quando comecei a perguntar se o pai já sabia da notícia, disseram-me que sim. Quando me levaram para o recobro vi o pai a pegar-te e senti-me muito feliz.
No recobro perguntaram-me se queria amamentar, respondi que queria muito. Tive a sorte de tu também o quereres. E ali estávamos nós os três. A partir daquele momento passámos a ser "mesmo" nós os três.
Foram 4 noites e 5 dias no hospital. Nesses dias recebemos algumas visitas de família e amigos, nesses dias pensei que iria demorar semanas até voltar a andar, nesses dias chorei muito, mas esses foram os primeiros dias ao teu lado. Eu e o pai sabíamos que a nossa aventura estava prestes a começar e que assim que chegássemos a casa tudo iria ser ainda melhor. Chegámos a casa na terça-feira, dia 4 de Junho, depois de termos feito uma paragem na casa dos bisavós.
Passaram 13 dias e ainda não consigo colocar em palavras as emoções que estou a sentir e o que representas para mim. Provavelmente nunca o conseguirei fazer.
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